quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Eita política réia desmantelada...

Há uma linha tênue entre a política e o humor. E que se torna cada vez mais próxima à medida que o tempo passa. Nessas eleições, perceba bem, esses dois ramos da ciência (sim, porque humor é uma ciência) estão umbilicalmente ligados. Tá tudo liberado. Sábia decisão do Supremo Tribunal Federal.

E eu já vou logo dizendo: meu voto é de quem me apresentar a proposta mais engraçada. Na eleição passada também agi assim e votei em um candidato sensacional. Ele simplesmente fez a mais genial de todas as promessas: prometeu tudo o que todos os outros seus concorrentes prometiam e disse que iria fazer um pouco mais. Pronto, ganhou meu voto. Ora, se uma eleição é para comparar propostas, então por que eu não votarei naquele que propôs tudo exatamente igual ao outro e ainda vai fazer mais? Agi com minha consciência e tasquei o voto nele. Não ganhou. Os outros, que tinham propostas iguais – mas não prometiam mais, como meu escolhido – se elegeram. Droga.

Nesta eleição eu muito provavelmente votarei nulo aqui no RN. Está muito séria a campanha aqui. Não pode ser assim.
Relataram-me que um jovem, na Festa de Santana deste ano, abordou quase todos os candidatos que passavam na sua frente pedindo aperto de mão. O rapaz perguntava - como todos os eleitores deveriam fazer - se eles estavam apertando a mão dele para pedir-lhe votos. Com a resposta afirmativa, sempre ouviam do jovem: - Então me diga suas propostas! . Alguns não sabiam responder, outros não queriam responder, outros desconversavam, outros perguntavam como estava a família (?!?!?!) e um, apenas um, se deu ao inútil trabalho de responder atenciosamente. Falou sobre propostas para a juventude por contados 5 minutos. Mas perdeu o voto do garoto, pois as propostas, apesar de até guardarem uma certa lógica, simplesmente não eram engraçadas. E ouviu uma sincera declaração: Não voto em você.

Após isso, revoltado e após algumas cervejas, juntou cinco amigos e ele mesmo, naquele sublime momento, lançou sua candidatura. Saiu pelas ruas caicoenses cumprimentando eleitores ao som de uma música composta e cantada pelos próprios amigos que o seguiam na caminhada: “É o deputado que vem lá do Seridó! É o deputado que chegou para vencer!”. Poderia até ter continuado na investida da campanha, mas foi contido pelos próprios membros do seu comitê de campanha quando desafiou no microfone todos os políticos que estavam ali para um debate naquele exato momento.

Votarei nulo, como disse, no Rio Grande do Norte. Pois meu candidato está em São Paulo. Francisco Everardo Oliveira Silva, eis o nome dele. Em seus programas ele diz que não sabe o que um Deputado federal faz (é o cargo a que se propõe), mas nos promete contar tudo se eleito for. Afirma, com toda sinceridade, que pretende ajudar os mais necessitados, inclusive a família dele. Mesmo com o espelho incontestavelmente provando o contrário, se acha um candidato lindo. E, de forma impagável (por favor vejam isso no youtube), disse que vai morrer (aliás, MORRREEEEEEERRR, conforme suas próprias palavras) se não votarem nele. Eleja-se, por favor, eleja-se!

Mas o texto de hoje tem um destinatário certo.

Gosto muito de um certo ex-prefeito de uma cidade do Nordeste. Ele não é engraçado por natureza, mas é protagonista das histórias que eu mais gosto de ouvir e sempre me falam. Sou fã dele. Contarei apenas uma.

Além de prefeito, era vaqueiro. E dos bons. Não era difícil vê-lo na disputa final de uma vaquejada. E, quando era prefeito do seu município, resolveu patrocinar a grande vaquejada que lá aconteceria. Acertou com os organizadores que daria R$ 10.000,00 para o vencedor.

O problema é que ele também correria a vaquejada. E, como dito, ele era vaqueiro dos bons. Tinha grandes chances de ganhar. O que – merecidamente, digo sem sacanagem – acabou de fato acontecendo. Após intensa disputa com outros vaqueiros da região, o prefeito acabou derrubando o último boi na faixa e se sagrou o legítimo campeão.

Na hora da premiação, entregaram um cheque de um dos patrocinadores, uma grande empresa, para o terceiro lugar, no valor de R$ 4.000,00. Ficou bastante contente. Entregaram, para o segundo colocado, um cheque de outro patrocinador no valor de R$ 6.000,00 e ele também ficou visivelmente alegre.

Na hora de entregarem a maior premiação para o grande campeão perceberam nele um certo desconforto e inquietação. Não tinha o sorriso do segundo, nem do terceiro colocado e estava visivelmente nervoso. Não entendiam muito bem um sentimento tão contraditório diante de um momento de tanta alegria.

Entregaram um cheque no valor do prêmio (R$ 10.000,00), mas foram surpreendidos:
- Não aceito o cheque que estão me dando – surpreendeu o campeão.
- Que é isso, prefeito – disseram os organizadores, acreditando que se tratava de um grande gesto de humildade – você mereceu o título. Correu como um grande vaqueiro.
- Não aceito. Vamos fazer o seguinte. A premiação para o campeão não era R$ 10.000,00 ? Então que tal me darem os dois cheques aí, que juntos dã R$ 10.000,00, e entregarem este aqui pra eles dois?
- Mas não dá no mesmo, Prefeito?
- Mas eu quero aqueles dois. Sou o campeão e tenho o direito de escolher.

E ficou aquela confusão inusitada até que um dos organizadores, enfim, entendeu o que estava acontecendo. Percebeu ele que o cheque de R$ 10.000,00 estava assinado pelo prefeito. E, ligando as coisas, sentenciou:

- Prefeito, está aqui o seu prêmio (entregando-lhe o cheque de R$ 10.000,00) e dou por encerrada a vaquejada. Parabéns e faça bom proveito do prêmio.
O campeão ficou com um sorriso amarelo e saiu meio sem comemorar.
Digam-me, amigos, que mal há de receber o próprio cheque que você mesmo passou?
Sei não.
Vocês sabem?

domingo, 8 de agosto de 2010

De gols, shoppings e colégios.

Não lembro ao certo o ano. 1995 ou 1996? Por aí. Mas lembro que foi marcante a nova roupagem dada pela Volkswagen ao Gol. Conhecido dos Brasileiros por ser quadrado e com um preço bem acessível, o carro passou a ter feições arredondadas (um verdadeiro marco), um novo tipo de volante, painel mais moderno e outros itens que marcariam, para sempre, o modelo de carro mais popular do país. As alterações foram tantas que, a partir de então, as posteriores mudanças feitas no Gol foram sendo chamadas pela VW de “gerações” (Geração I, Geração II...creio que hoje o Gol está na geração IV).

O que é de moderno, porém, nunca me interessou. Sou um entusiasta da nostalgia. Portanto, é no marco da mudança do Gol quadrado que ficarei. E, voltando no tempo, lembro que essa mudança por algum tempo acresceu um substantivo que ficou bastante conhecido no novo gol: Gol Bola.

Gol Bola era a nova sensação. “Bola”, já disse, por causa do novo formato arredondado do carro. E dá-lhe Gol Bola. Todo mundo queria o Gol Bola. Nos classificados da Tribuna do Norte era uma festa só. Por exemplo: o cara mandava anunciar que tava vendendo um Gol desse jeito:

“Vende-se Gol ano 95. Ar/DH. Bom estado de conservação. 20 mil km. Único dono. Tratar no 222-2310”

(O cara dava o número fixo sem o “3” antes, pois não existia. E também não dava celular pois não tinha. Quem tinha celular era escroto)
Aí tinha outro anúncio logo abaixo:
vende-se GOL BOLA ano 96.

Pronto, matou o cara lá. Bastava dizer que era GOL BOLA que já despertava o interesse de quem estivesse procurando Gol.

O pai do jovem escroto tinha um gol quadrado. Mesmo após, mais ou menos, uns dois anos do lançamento do novo gol bola. E, ainda mais, com um pequeno problema no pára-choque, que teimava em querer cair, apesar de a corda nele amarrada (claramente visível a todos) dar-lhe sustentação. A corda era o xodó do pequeno escroto: “Papai, espero que o senhor fique com essa corda no para choque para sempre, pois é o nosso diferencial. Vejo todos os carros por aí com para choques comuns e apenas o nosso tem essa corda charmosa. Gostei”.

O gol quadrado, na verdade, era a grande paixão daquele jovem. Enquanto todos os pais dos seus colegas compravam Gols Bola ou outros carros mais modernos, o pai dele continuava com aquele carro. Para uns, estava se tornando obsoleto. Para o nosso herói, estava se tornando cada dia mais charmoso.
Pena que o pensamento do jovem – guerreiro, heróico, valente, destemido – não era por todos compartilhado. E isso gerava alguns problemas. O maior deles é o que valeu o motivo deste escrito, que passo agora a relatar.
É que tanto ele como sua querida irmã estudavam no mesmo colégio. E no mesmo horário. E não moravam perto do colégio. Conseguem perceber a conseqüência disso? É fácil: se moram longe, estudam juntos no mesmo local e no mesmo horário, uma única pessoa terá que deixá-los diariamente no colégio. E isso era tarefa para o pai do nosso jovem escroto, a bordo do seu Gol quadrado com corda no pára-choque.
Seria assim todos os dias. Mas vale relatar o primeiro dia de aula do ano, em que o movimento é intenso nos colégios. A bordo do seu Gol quadrado, o pai do jovem parte de casa, para deixar ele e a irmã na escola, escutando a paródia de “Singing in the rain” que a 96 FM fez na época:

“É bom acordar
Já passam das seis
Vou levantar e me ligar
Na noventa e seis
Tomar o café
Curtindo esse som
Ligado na noventa e seis
Vou ter um dia booom”


No banco da frente, está o pai dirigindo e o filho ao seu lado olhando para o vento com um sorrisão na cara. No banco de trás está a irmã, bonita, charmosa e também vaidosa. Está preparando a maquiagem para chegar. A viagem prossegue até a escola, o CEI. Quando está próximo do Shopping Via direta ouve-se a voz da irmã:

“Pare aqui, papai!”.
“Aqui, minha filha? Mas o colégio é lá embaixo.”
perguntou o pai sem entender.
“Mas eu quero ficar aqui, daqui eu vou andando pra lá”.
“Então tá bom. É até melhor que daqui eu pego reto e vou pro trabalho.

Desconfiando que sua irmã estava, na verdade, buscando desvencilhar a imagem dela do gol quadrado, e, diante da aquiescência do pai em deixá-los ali no Via Direta (o que para ele seria terrível, pois ninguém o veria chegando no gol quadrado com corda no para choque), o jovem bradou alto e bateu o pé:

“Não, não e não, papai. O senhor vai deixar agente na escola e é lá embaixo. Aqui no Via Direta, NÃO!”
“Vai sim” – interferiu a irmã – “vamos ficar aqui no shopping sim”
“Não vamos não”
“Vamos sim!”

E começou aquela briga em frente ao Via direta, com a irmã querendo descer e o jovem querendo seguir. E não chegavam a um consenso e pegue briga, até que o pai tomou uma decisão. “Ela desce aqui no Via Direta e eu deixo você lá embaixo”. Ótimo! Chegaram a um acordo.

Eis que a irmã desce do carro e o irmão, na esquina, ainda consegue vê-la dando um ajuste na maquiagem. Até que o pai vai descendo a grande ladeira que leva até o CEI, enquanto o jovem, mais feliz do que pinto em merda, vai na janela do carro fazendo questão de falar com todo mundo que está do lado de fora. Dava pra ver carrões importados, carros de luxo, caminhonetas e até Gols Bolas, todos deixando os filhos. “Mas gol quadrado é só o do meu paizão. E com corda no pára-choque” pensava ele com um orgulho que só ele sabia.

Até que o pai para na esquina do colégio. “Não senhor, quero que você me deixe exatamente na frente da escola, naquelas escadarias”. E o pai anda mais um pouquinho e deixa o filhão em frente à escola. Ele desce vagarosamente do gol quadrado certificando-se de que todo mundo estava vendo-o chegar. E estavam mesmo. Todos viram.

Era isso que ele queria. E conseguiu. Desceu orgulhosamente do gol quadrado do pai, com uma charmosa corda no para choque, e o colégio inteiro o viu chegar. Alguns meio cansados, outros tristes pela volta as aulas, mas ele era o cara mais feliz da história naquele momento.

E assim se seguiu durante uma semana inteira. Até que o pai aparece em casa, no sábado, com um carrão do ano com todos os acessórios possíveis e imagináveis. O novo possante era digno das capas de revista 4 rodas dessas que a revista faz: TESTAMOS O NOVO (MODELO DO CARRO). SUCESSO TOTAL.

O novo possante foi comprado. E o gol quadrado foi vendido. E desse dia em diante, as coisas ficaram muito comuns e ele tomou uma decisão: "Quem fica no Via Direta agora sou eu!"