quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Festa de casamento

Festa de casamento é um desmantelo.

Do começo (e quando eu falo começo estou me referindo desde a iniciativa de casar) até o último minuto da festa é tudo desmantelado.

Reparem bem quando algum amigo seu diz que vai casar. “Amigos, vou casar”.

E vai mesmo. Se ele disser isso HOJE, o ato ocorrerá em 2013, no mínimo. É um mundo, uma vida inteira desde o momento em que se decide casar até o casamento.

E vocês sabem por quê?

Por que a festa de casamento é um desmantelo.

Vamos adiantar no tempo. Vou pular algumas etapas do processo (escolha do local e igreja, aluguel do vestido de noiva e paletó, Buffet, etc...) até a formação da lista de presentes.

Aí está algo que não é feito por um homem. Definitivamente.

Outro dia fui a Rio Center comprar um presente de casamento e uma moça simpática me apresentou a lista. Dos 256 presentes da lista, só sabia a utilidade de um deles: “06 tulipas para cerveja”.

O resto eu não sabia para onde vem, nem para onde vai.

Ou alguém acha que eu realmente sei a finalidade de uma “caçarola com tampa”, um “garfo grande para trinchar” (garfo não tem apenas uma utilidade não?!) ou uma “espátula para bolo”?

Mas nenhum deles me chamou tanto atenção quanto o “Balde Imperial de Champagne com divisória”.

Mas é claro que eu gostaria de ganhar isso. Afinal, me perco nas vezes em que já fui nas casas dos meus amigos tomar champanhe. Vou dar esse balde e na próxima vez que formos tomar um champanhe direi: “Poxa, joca, baldezinho fuleira, hein? Nem divisória tem!


Pois é, além de o balde ser pra champanhe, é COM divisória.

Eu dou presente que tenha utilidade. No casamento de outro amigo, por exemplo, não gostei de nada da lista e comprei-lhe, em outra loja, um microondas. Quando fui visitar o amigo em seu apartamento, o eletrodoméstico estava no canto, pois ele já tinha um na residência. Hoje é bem útil como tamborete. Mas pelo menos usam!

E não invente de comprar o presente por último, viu?

Relapso, costumo deixar pra última hora. E sempre acontecem 2 coisas, uma boa e outra ruim. A ruim é que só sobram os presentes mais caros e eu me fodo no bolso. E a boa é que eu vejo o nome da galera na lista e vejo quem são os galados que compram logo os mais baratos. Tenho o nome de todos.

Um deles tem muito amor pelos Estados Unidos. Afinal, em 03 casamentos seguidos comprou o conjunto de copo americano de R$ 26,90.

Já ficou de fora da lista de convidados?

Então você não entende nada de descontração.

Foi com uma dessas que eu aprendi a ter mais cuidado quando eu digo quem é meu amigo.

Certo dia, travei o seguinte diálogo com um amigo:
- Ei, você conhece Fábio né? – Perguntou meu amigo
- Fabinho?? – Respondi já na intimidade - Que é isso pô..Fabinho é meu truta porra! Amigão, porra. Fale mal de Deus, mas não fale mal de Fabinho na minha frente.

E aí meu amigo me fez uma pergunta bem simples:

- Vai pro casamento dele?
- Ele vai casar?????

Pois é. Fiquei de fora do casamento do meu amigo. Que depois dessa foi rebaixado para “conhecido”.

E recentemente também fiquei de fora do casório de outro amigo. Estou pensando seriamente em rebaixá-lo a conhecido também.

Mas uma coisa é certa: Não estarão no meu casamento!

Esse é o lado bom de casar por último depois dos seus amigos. Você espera todo mundo casar, a turma vai casando e você vai só anotando quem lhe chamou ou não. No final, você prepara a lista completa do seu casamento e risca com força os que não lhe chamaram. Com força mesmo.

Quando tiver o meu no futuro eu terei duas alegrias: Estar casando e não tê-los no meu casamento.

Estou pensando em enviar a lista do meu casamento pra casa deles e colocar uma anotação lá embaixo: “Tá vendo essa lista? Você não está nela!” Sou vingativo!

Ou mandar um daqueles guias do “Solto na cidade” e dizer: “Ó, arranja um programa aí pro dia 04 de novembro, porque é o dia do meu casamento e você não vai.”.

Pois é.

Todo mundo convidado, vem um dos momentos de maior aflição do casório: a igreja.

Eu fico extremamente aflito na igreja. Não pelo momento, pelos noivos, nada disso.

Eu fico aflito pois nunca consigo adivinhar o que o padre quer.

Passo a missa inteira com a cabeça pro lado, olhando a pessoa que está ao meu lado. Se ela se levanta, eu me levanto. Se ela se senta, eu me sento. Se ela estende a mão, eu seguro e dou a mão pro do lado. Se ela fecha os olhos e reza, eu fecho só um deles e fico com o outro aberto, balbuciando alguma coisa e espiando, esperando o próximo passo.

Não posso fazer feio na igreja.

Aliás, qual é o critério que o padre utiliza para em tais palavras as pessoas ficarem sentadas e nas outras ficarem em pé? Ele bem que poderia explicar.

E aí, casados, vão os noivos e convidados para a festa de casamento. E segue-se o protocolo:

Até as 22 hrs: Todos de paletó
22 hrs às 00 hrs: Já se pode ver alguns sem o paletó pelo salão e com a camisa dobrada.
00 hrs às 01 horas: São poucos, mas já se vê alguns com a camisa desensacada.
01 hrs às 02 hrs: Paletós inexistentes, camisas desensacadas e gravatas desajeitadas viram regras, além de bêbados querendo subir ao palco para cantar.
02 hrs em diante: Gravatas na cabeça, bêbados ricos e mentirosos.

É sempre assim. Não muda. Tem outros detalhes, mas a essência é essa.

Enfim, quer casar? Vai num cartório e casa. Porque festa de casamento, meu cumpadi, é um desmantelo.





quinta-feira, 26 de maio de 2011

Intimação pelo twitter

Olhaí o Direito se modernizando! Na Gazeta de Paraíba de ontem, olha a notícia:



A Juíza da 7ª Vara Criminal da Comarca de Bayeux/PB negou pedido de advogado que pretendia que fosse decretada a nulidade de audiência de instrução e julgamento em razão de sua intimação para o ato ter se realizado por mensagem eletrônica de rede social (“twitter”) transmitida pelo Diretor de Secretaria daquela Vara.


O advogado alegou, em sua petição, que não tomou conhecimento da intimação pela via eletrônica mencionada, por não acessá-la com freqüência. Sustentou, ainda, que as intimações para os atos processuais (caso de intimação para audiência) devem se dar por publicação no diário oficial.


O Ministério Público opinou pelo indeferimento do pedido, uma vez que a referida mensagem (consistente em “@SarmentoJoao @Clovisfloresadv Intimação: audiência de inst. e julgamento 13/04/11 às 14:00 hs, proc. 000567-2010”) foi endereçada diretamente ao advogado e continha os elementos necessários ao conhecimento do ato. Ademais, ressaltou o MP que o referido advogado, poucas horas depois, respondeu indiretamente à intimação/mensagem, o que levaria a conclusão de que foi intimado (@Clovisfloresadv @SarmentoJoao ok. Vamos para Garota Safada sábado?”).


Na decisão, a magistrada entendeu que a ausência do patrono à audiência foi injustificada. Ressaltou que “embora o ato de intimação não tenha sido publicado em órgão oficial, o advogado tinha conhecimento de que iria haver a referida audiência na data e horário mencionado, uma vez que respondeu ao ato de intimação transmitido pela rede social e, como também mostrado pelo MP, diferente do que alega, possui freqüente acesso àquele meio eletrônico”. A Juíza entendeu, ainda, que não houve qualquer prejuízo à parte, uma vez que, diante, da ausência de seu advogado constituído, foi representado por defensor dativo do Juízo, que participou ativamente do ato, formulando perguntas às testemunhas inquiridas.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Advogado tem publicidade de site de compra coletiva suspensa.

Deu na Tribuna do Norte de hoje. Precedente Fantástico e justo!



ADVOGADO QUE ANUNCIAVA EM SITE DE COMPRA COLETIVA TEM PUBLICIDADE SUSPENSA



Inaugurando precedente, a Juíza da 3ª Vara Cível do Fórum da Zona Norte de Natal/RN acatou pedido liminar formulado em Ação Cautelar ajuizada pelo Advogado J.S.O. para suspender anúncio de outro advogado oferecendo serviços advocatícios em site de compras coletivas na Internet.

Segundo narrou o autor na inicial, o advogado D.C.L, no mês de março, ofereceu, no referido site, “descontos de 50% em Habeas Corpus, Pedidos de liberdade provisória e relaxamentos de prisão e demais causas em geral na área criminal e cíveis” ressaltando que o anúncio foi realizado de forma reservada, de forma que os só os consumidores cadastrados no site poderiam ter acesso à promoção.

A inicial afirmava que, até o ajuizamento da ação, foram vendidos 1.053 cupons (ferramenta pela qual o consumidor pode cobrar o serviço comprado) que poderiam ser utilizados a partir do dia 06 de abril até o dia 06 de Setembro de 2011. Disse o Advogado autor que a oferta contraria, dentre outras normas, o Estatuto da OAB e os princípios que regem a advocacia e o Direito do Consumidor, além de se tratar de concorrência desleal praticada por aquele advogado.

Ouvido previamente, o advogado D.C.L afirmou que não há norma proibindo a prática. Segundo ele, o Direito é ciência moderna, dinâmica e a oferta do serviço por meio de site de compras coletivas é tendência nova a ser acompanhada pelas novas relações jurídicas de direito eletrônico que se formam. Ressaltou ele, ainda, que o anúncio foi feito de forma reservada, de forma que não seria abertamente ofertado ao público, mas apenas a clientes previamente cadastrados no site.

A decisão, porém, acatou o pedido da Inicial. Segundo a Magistrada, ficou comprovado que o anúncio realmente existe nos moldes apresentados pelo autor o que fere os princípios básicos que regem as relações entre os advogados e pelos advogados. Segundo destacou a magistrada, “ainda que não houvesse a ofensa em qualquer norma de direito posto, a prática ofenderia aos mais basilares preceitos do caro exercício da profissão de advogado, que não pode ser oferecida a varejo, como, de fato, se apresentava na oferta do site”.

A Juíza determinou, ainda, a imediata retirada da publicidade do site, a devolução do dinheiro pago aos clientes e a expedição de ofício à OAB para apuração de infração disciplinar pelo advogado anunciante.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Eita política réia desmantelada...

Há uma linha tênue entre a política e o humor. E que se torna cada vez mais próxima à medida que o tempo passa. Nessas eleições, perceba bem, esses dois ramos da ciência (sim, porque humor é uma ciência) estão umbilicalmente ligados. Tá tudo liberado. Sábia decisão do Supremo Tribunal Federal.

E eu já vou logo dizendo: meu voto é de quem me apresentar a proposta mais engraçada. Na eleição passada também agi assim e votei em um candidato sensacional. Ele simplesmente fez a mais genial de todas as promessas: prometeu tudo o que todos os outros seus concorrentes prometiam e disse que iria fazer um pouco mais. Pronto, ganhou meu voto. Ora, se uma eleição é para comparar propostas, então por que eu não votarei naquele que propôs tudo exatamente igual ao outro e ainda vai fazer mais? Agi com minha consciência e tasquei o voto nele. Não ganhou. Os outros, que tinham propostas iguais – mas não prometiam mais, como meu escolhido – se elegeram. Droga.

Nesta eleição eu muito provavelmente votarei nulo aqui no RN. Está muito séria a campanha aqui. Não pode ser assim.
Relataram-me que um jovem, na Festa de Santana deste ano, abordou quase todos os candidatos que passavam na sua frente pedindo aperto de mão. O rapaz perguntava - como todos os eleitores deveriam fazer - se eles estavam apertando a mão dele para pedir-lhe votos. Com a resposta afirmativa, sempre ouviam do jovem: - Então me diga suas propostas! . Alguns não sabiam responder, outros não queriam responder, outros desconversavam, outros perguntavam como estava a família (?!?!?!) e um, apenas um, se deu ao inútil trabalho de responder atenciosamente. Falou sobre propostas para a juventude por contados 5 minutos. Mas perdeu o voto do garoto, pois as propostas, apesar de até guardarem uma certa lógica, simplesmente não eram engraçadas. E ouviu uma sincera declaração: Não voto em você.

Após isso, revoltado e após algumas cervejas, juntou cinco amigos e ele mesmo, naquele sublime momento, lançou sua candidatura. Saiu pelas ruas caicoenses cumprimentando eleitores ao som de uma música composta e cantada pelos próprios amigos que o seguiam na caminhada: “É o deputado que vem lá do Seridó! É o deputado que chegou para vencer!”. Poderia até ter continuado na investida da campanha, mas foi contido pelos próprios membros do seu comitê de campanha quando desafiou no microfone todos os políticos que estavam ali para um debate naquele exato momento.

Votarei nulo, como disse, no Rio Grande do Norte. Pois meu candidato está em São Paulo. Francisco Everardo Oliveira Silva, eis o nome dele. Em seus programas ele diz que não sabe o que um Deputado federal faz (é o cargo a que se propõe), mas nos promete contar tudo se eleito for. Afirma, com toda sinceridade, que pretende ajudar os mais necessitados, inclusive a família dele. Mesmo com o espelho incontestavelmente provando o contrário, se acha um candidato lindo. E, de forma impagável (por favor vejam isso no youtube), disse que vai morrer (aliás, MORRREEEEEEERRR, conforme suas próprias palavras) se não votarem nele. Eleja-se, por favor, eleja-se!

Mas o texto de hoje tem um destinatário certo.

Gosto muito de um certo ex-prefeito de uma cidade do Nordeste. Ele não é engraçado por natureza, mas é protagonista das histórias que eu mais gosto de ouvir e sempre me falam. Sou fã dele. Contarei apenas uma.

Além de prefeito, era vaqueiro. E dos bons. Não era difícil vê-lo na disputa final de uma vaquejada. E, quando era prefeito do seu município, resolveu patrocinar a grande vaquejada que lá aconteceria. Acertou com os organizadores que daria R$ 10.000,00 para o vencedor.

O problema é que ele também correria a vaquejada. E, como dito, ele era vaqueiro dos bons. Tinha grandes chances de ganhar. O que – merecidamente, digo sem sacanagem – acabou de fato acontecendo. Após intensa disputa com outros vaqueiros da região, o prefeito acabou derrubando o último boi na faixa e se sagrou o legítimo campeão.

Na hora da premiação, entregaram um cheque de um dos patrocinadores, uma grande empresa, para o terceiro lugar, no valor de R$ 4.000,00. Ficou bastante contente. Entregaram, para o segundo colocado, um cheque de outro patrocinador no valor de R$ 6.000,00 e ele também ficou visivelmente alegre.

Na hora de entregarem a maior premiação para o grande campeão perceberam nele um certo desconforto e inquietação. Não tinha o sorriso do segundo, nem do terceiro colocado e estava visivelmente nervoso. Não entendiam muito bem um sentimento tão contraditório diante de um momento de tanta alegria.

Entregaram um cheque no valor do prêmio (R$ 10.000,00), mas foram surpreendidos:
- Não aceito o cheque que estão me dando – surpreendeu o campeão.
- Que é isso, prefeito – disseram os organizadores, acreditando que se tratava de um grande gesto de humildade – você mereceu o título. Correu como um grande vaqueiro.
- Não aceito. Vamos fazer o seguinte. A premiação para o campeão não era R$ 10.000,00 ? Então que tal me darem os dois cheques aí, que juntos dã R$ 10.000,00, e entregarem este aqui pra eles dois?
- Mas não dá no mesmo, Prefeito?
- Mas eu quero aqueles dois. Sou o campeão e tenho o direito de escolher.

E ficou aquela confusão inusitada até que um dos organizadores, enfim, entendeu o que estava acontecendo. Percebeu ele que o cheque de R$ 10.000,00 estava assinado pelo prefeito. E, ligando as coisas, sentenciou:

- Prefeito, está aqui o seu prêmio (entregando-lhe o cheque de R$ 10.000,00) e dou por encerrada a vaquejada. Parabéns e faça bom proveito do prêmio.
O campeão ficou com um sorriso amarelo e saiu meio sem comemorar.
Digam-me, amigos, que mal há de receber o próprio cheque que você mesmo passou?
Sei não.
Vocês sabem?

domingo, 8 de agosto de 2010

De gols, shoppings e colégios.

Não lembro ao certo o ano. 1995 ou 1996? Por aí. Mas lembro que foi marcante a nova roupagem dada pela Volkswagen ao Gol. Conhecido dos Brasileiros por ser quadrado e com um preço bem acessível, o carro passou a ter feições arredondadas (um verdadeiro marco), um novo tipo de volante, painel mais moderno e outros itens que marcariam, para sempre, o modelo de carro mais popular do país. As alterações foram tantas que, a partir de então, as posteriores mudanças feitas no Gol foram sendo chamadas pela VW de “gerações” (Geração I, Geração II...creio que hoje o Gol está na geração IV).

O que é de moderno, porém, nunca me interessou. Sou um entusiasta da nostalgia. Portanto, é no marco da mudança do Gol quadrado que ficarei. E, voltando no tempo, lembro que essa mudança por algum tempo acresceu um substantivo que ficou bastante conhecido no novo gol: Gol Bola.

Gol Bola era a nova sensação. “Bola”, já disse, por causa do novo formato arredondado do carro. E dá-lhe Gol Bola. Todo mundo queria o Gol Bola. Nos classificados da Tribuna do Norte era uma festa só. Por exemplo: o cara mandava anunciar que tava vendendo um Gol desse jeito:

“Vende-se Gol ano 95. Ar/DH. Bom estado de conservação. 20 mil km. Único dono. Tratar no 222-2310”

(O cara dava o número fixo sem o “3” antes, pois não existia. E também não dava celular pois não tinha. Quem tinha celular era escroto)
Aí tinha outro anúncio logo abaixo:
vende-se GOL BOLA ano 96.

Pronto, matou o cara lá. Bastava dizer que era GOL BOLA que já despertava o interesse de quem estivesse procurando Gol.

O pai do jovem escroto tinha um gol quadrado. Mesmo após, mais ou menos, uns dois anos do lançamento do novo gol bola. E, ainda mais, com um pequeno problema no pára-choque, que teimava em querer cair, apesar de a corda nele amarrada (claramente visível a todos) dar-lhe sustentação. A corda era o xodó do pequeno escroto: “Papai, espero que o senhor fique com essa corda no para choque para sempre, pois é o nosso diferencial. Vejo todos os carros por aí com para choques comuns e apenas o nosso tem essa corda charmosa. Gostei”.

O gol quadrado, na verdade, era a grande paixão daquele jovem. Enquanto todos os pais dos seus colegas compravam Gols Bola ou outros carros mais modernos, o pai dele continuava com aquele carro. Para uns, estava se tornando obsoleto. Para o nosso herói, estava se tornando cada dia mais charmoso.
Pena que o pensamento do jovem – guerreiro, heróico, valente, destemido – não era por todos compartilhado. E isso gerava alguns problemas. O maior deles é o que valeu o motivo deste escrito, que passo agora a relatar.
É que tanto ele como sua querida irmã estudavam no mesmo colégio. E no mesmo horário. E não moravam perto do colégio. Conseguem perceber a conseqüência disso? É fácil: se moram longe, estudam juntos no mesmo local e no mesmo horário, uma única pessoa terá que deixá-los diariamente no colégio. E isso era tarefa para o pai do nosso jovem escroto, a bordo do seu Gol quadrado com corda no pára-choque.
Seria assim todos os dias. Mas vale relatar o primeiro dia de aula do ano, em que o movimento é intenso nos colégios. A bordo do seu Gol quadrado, o pai do jovem parte de casa, para deixar ele e a irmã na escola, escutando a paródia de “Singing in the rain” que a 96 FM fez na época:

“É bom acordar
Já passam das seis
Vou levantar e me ligar
Na noventa e seis
Tomar o café
Curtindo esse som
Ligado na noventa e seis
Vou ter um dia booom”


No banco da frente, está o pai dirigindo e o filho ao seu lado olhando para o vento com um sorrisão na cara. No banco de trás está a irmã, bonita, charmosa e também vaidosa. Está preparando a maquiagem para chegar. A viagem prossegue até a escola, o CEI. Quando está próximo do Shopping Via direta ouve-se a voz da irmã:

“Pare aqui, papai!”.
“Aqui, minha filha? Mas o colégio é lá embaixo.”
perguntou o pai sem entender.
“Mas eu quero ficar aqui, daqui eu vou andando pra lá”.
“Então tá bom. É até melhor que daqui eu pego reto e vou pro trabalho.

Desconfiando que sua irmã estava, na verdade, buscando desvencilhar a imagem dela do gol quadrado, e, diante da aquiescência do pai em deixá-los ali no Via Direta (o que para ele seria terrível, pois ninguém o veria chegando no gol quadrado com corda no para choque), o jovem bradou alto e bateu o pé:

“Não, não e não, papai. O senhor vai deixar agente na escola e é lá embaixo. Aqui no Via Direta, NÃO!”
“Vai sim” – interferiu a irmã – “vamos ficar aqui no shopping sim”
“Não vamos não”
“Vamos sim!”

E começou aquela briga em frente ao Via direta, com a irmã querendo descer e o jovem querendo seguir. E não chegavam a um consenso e pegue briga, até que o pai tomou uma decisão. “Ela desce aqui no Via Direta e eu deixo você lá embaixo”. Ótimo! Chegaram a um acordo.

Eis que a irmã desce do carro e o irmão, na esquina, ainda consegue vê-la dando um ajuste na maquiagem. Até que o pai vai descendo a grande ladeira que leva até o CEI, enquanto o jovem, mais feliz do que pinto em merda, vai na janela do carro fazendo questão de falar com todo mundo que está do lado de fora. Dava pra ver carrões importados, carros de luxo, caminhonetas e até Gols Bolas, todos deixando os filhos. “Mas gol quadrado é só o do meu paizão. E com corda no pára-choque” pensava ele com um orgulho que só ele sabia.

Até que o pai para na esquina do colégio. “Não senhor, quero que você me deixe exatamente na frente da escola, naquelas escadarias”. E o pai anda mais um pouquinho e deixa o filhão em frente à escola. Ele desce vagarosamente do gol quadrado certificando-se de que todo mundo estava vendo-o chegar. E estavam mesmo. Todos viram.

Era isso que ele queria. E conseguiu. Desceu orgulhosamente do gol quadrado do pai, com uma charmosa corda no para choque, e o colégio inteiro o viu chegar. Alguns meio cansados, outros tristes pela volta as aulas, mas ele era o cara mais feliz da história naquele momento.

E assim se seguiu durante uma semana inteira. Até que o pai aparece em casa, no sábado, com um carrão do ano com todos os acessórios possíveis e imagináveis. O novo possante era digno das capas de revista 4 rodas dessas que a revista faz: TESTAMOS O NOVO (MODELO DO CARRO). SUCESSO TOTAL.

O novo possante foi comprado. E o gol quadrado foi vendido. E desse dia em diante, as coisas ficaram muito comuns e ele tomou uma decisão: "Quem fica no Via Direta agora sou eu!"

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Escroto em Natal - O início de tudo.

Não se vira escroto de uma hora pra outra. É preciso obedecer a todo um procedimento. Um longo procedimento. Ser escroto depende de uma concatenação de atos que devem ser rigorosamente seguido. Se você, homem de Natal, tiver entre 24-30 anos, leia este texto e veja se você fez tudo isso até os seus 15-16 anos. E tenha certeza de que você, hoje, se não tivesse seguido outro rumo, seria o cara mais escroto, entre os escrotos que circulam no meio dos escrotos de todos os escrotos que se acham tão escrotos quanto você seria escroto. De todos os escrotos que estão por aí, você superaria todos eles.


Quando se pula da 4ª para a 5ª serie, há uma mudança radical na escola. A começar pelo próprio nome: não é mais escola, é colégio. Tia vira Professora. Geografia, História, Desenho e Educação Física surgem do nada (não era só português, matemática, estudos sociais e ciências a vida toda não?). Enfim, você entrará no Ginásio. Quando me disseram isso, boboca que sou eu, juro que achei que íamos assistir as aulas dentro da quadra.


É preciso estar preparado para as mudanças e o pequeno escroto sempre estava preparado para elas.


Livros na mão. É a primeira regra. Esqueça a sua mochila da company (que na 4ª serie o pequeno escroto só carregava com uma alça, enquanto os outros andavam segurando em duas alças). Leve os livros na mão. Um caderno só e um livro se alguma professora – gostosa, por favor – pedir. Nada de estojo. Canetona bic azul no bolso. Nada daquelas canetas com 5 cores. Aquilo não é coisa de jovem que um dia quer ser escroto.


Uma vez na 5ª série, procure insistentemente conhecer alguma garota da 6ª série. Se você arrochar (antes era ficar, hoje é pegar, mas, na época, o pequeno escroto nem pegava nem ficava. Ele arrochava) alguma gatinha da 6ª série, toque aqui por que você está indo muito bem. Mas só conhecer já está bom demais, vai te dar moral.


Eu sei, é difícil. A vida colegial tem essas regras. As garotas da 5ª querem os garotos da 6ª, 7ª ou da 8ª. Quanto maior a série, maior a moral da garota. Se não der, fica (garotos arrocham, garotas ficam) com algum da 5ª serie mesmo. Os meninos, por sua vez, têm regra interessante. Na 5ª, arroxam as garotas da 5ª, embora tentem da 6ª (mas só quem pegará é o escroto). Quando estão na 6ª, arroxam as da 6ª e da 5ª. Quando estão na 7ª, arroxam as da 7ª, da 6ª e da 5ª. As da 8ª é quase impossível, pois elas só querem os caras do pré ou do 2º ano ano (E os caras do pré só querem as do 2º ano até a 8ª). É mais ou menos assim que as coisas aconteciam.


A 5ª série, na verdade, é apenas um grande aprendizado para o nosso pequeno escroto. Ele observa o comportamento dos escrotos que estão em graus mais elevados e vê o que deve fazer para se destacar quando chegar o seu momento de assumir o posto de mais escroto da turma. E esse momento chegará na 6ª série, quando ele estiver com 13 anos.


Ao chegar nesta série, o escroto começará a se destacar. Já no primeiro dia de aula aparece com um reebok classic branco, calça da zoomp ou overend e uma carteira nova da sueldo’s, com destaques em dourado, uma corrente de ouro com um crucifixo e uma pulseira dourada (observou direitinho, hein garoto?). Seu caderno já se destaca dos demais por possuir, na capa, um boi caindo e dois vaqueiros derrubando-o, com os dizeres em destaque: “Meu esporte é vaquejada”. Vai longe esse garoto.


E vai mesmo. Para assumir de vez a liderança da escrotagem, o pequeno escroto, conversando com amigos com um pé apenas na parede, encostado, irá assumir o teor da conversa do intervalo com os seus amigos que já tentam também ser tão escroto quanto ele. E se alguém falar alguma besteira, qualquer que seja ela, o escroto diz apenas uma palavra que lhe coloca evidentementente no topo da escrotagem: “SALGA”. E todos os amigos abrem a mão em forma de tapa, sacudindo a cabeça do pombão (pombão é o oposto do escroto). O salga é uma forma de reverência dos pequenos escrotos a quem não for tão escroto quanto eles.


Mas é preciso retomar o teor da conversa: Em pauta, conversas sobre a festa americana que as meninas da sala estão organizando no próximo sábado. Conversam sobre como levar alguma bebida alcoólica para a festa, apesar de ficar acertado que os meninos levariam refrigerante e as meninas, salgadinhos. Por que ser escroto é ser diferente dos demais.


O escroto, de alguma forma, consegue levar o álcool para a festa, que aconteceu na casa de Carol. Carol Mendes, não Carol Lopes. Por que em toda turma de colégio tem mais de uma Carol e é preciso diferenciá-las pelo sobrenome. Lá, cadeiras de um lado, onde ficam as meninas, e do outro lado, mais cadeiras, onde ficam os meninos. Ao centro, uma mesa com os salgadinhos das meninas e encostado em uma das paredes, o Som de última geração (que tocava até CD), onde está tocando as músicas.

E é nesse ponto que o pequeno escroto também começa a mostrar seu talento. Estava tocando Bamdamel, depois tocou Netinho e Banda Beijo, depois algumas garotas pediram New kids On the Block, mas outros rapazes queriam ouvir Chiclete com banana. Diante do impasse, o pequenino escroto toma as rédeas da situação e decreta: “Vai tocar Mel com terra!”. Era o único que queria ouvir forró e sabia dançar também, algo raro para aquela idade entre os garotos da sua turma.

Infelizmente, foi voto vencido nessa discussão. Pois poucos ali têm a visão tão visionária do nível de escrotagem que ele tinha. Um pequeno gênio. É vencido e obrigado a dançar música lenta (Take My Breath Away – música tema de top gun) com uma garota, que acaba arrochando, mas a deixa sozinha na festa, pois diz que tem que ir a outra festa (escroto, desde boy, é cheio de festas para ir), quando na verdade vai encontrar o pai a 2 quarteirões de onde está acontecendo a festa, local em que ele pediu para o pai parar, para ninguém ver que o pai está indo buscá-lo na festa.


Na segunda, o comentário é geral: Bebeu álcool na festa, pediu pra tocar forró, dançou música lenta, arroxou uma garota e ainda deixou-a sozinha na festa, para ir a outra. Amigos, o colégio agora tem uma nova potência em escrotagem. Já na 6ª série, o jovem começa a despertar a atenção dos escrotos da 7 serie e da 8, que já percebem o talento do garoto.

E passam a chamá-lo para ir as festas com eles. Inclusive no vila folia. Amigos, vocês não tem noção do nível de escrotagem que é você ir pro Vila Folia. Por que, nessa época, uma coisa era você sair com amigos no sábado - com um dos pais indo deixar às 4 horas e o outro ir pegar às 9 horas da noite – para o Natal Shopping, andar de escada rolante, comprar bagana na Sweet Sweet Way e lanchar no cupim pão de batata. Outra coisa, bem diferente, é você ter 13 anos, fazer a sexta série e já ir para o vila folia com os caras da 8ª Série. Meu amigo, se você chegou nesse nível, este que aqui escreve é seu fã. E o pequeno escroto chegou. O colégio tem um novo escroto e a sua turma, um novo líder vanguardista.


Ciente TODO o colégio disso, o que acontece a partir daí é apenas uma consolidação do seu status. Meses após meses, o escroto consolida sua escrotagem e chega à oitava série no auge de sua carreira no ginásio.


Já com sua liderança consolidada em matéria de escrotagem, principalmente após contarem no colégio que ele arrochou várias na Disney, no grupo laranja da aerotur, depois de gritar “NO DO MUDOOOO”, dentro do ônibus da Disney, e ouvir gritos histéricos da galera respondendo, é chegado o grande momento de testar o nível da sua escrotagem a nível municipal.


Já líder absoluto em seu colégio, o pequeno escroto se deparará com um novo desafio, uma semana após voltar da Disney: 05 anos do Divina Xama no Mon Jardin. A festa do ano. É sério, cara. O desafio é muito difícil. Lá ele encontrará a nata do epicentro da elite do seleto grupo dos melhores escrotos de todos os colégios de Natal.


O Mon jardim, para quem não sabe (e se não souber, não é escroto), não existe mais. Situado em Capim Macio, nas proximidades do Motel Raru´s (por que esse ponto de referência?!?), tratava-se de uma grande casa que foi transformada, com um palco e um grande jardim. Em todos as sábados haviam festas, que começavam por volta das 16:00 horas e se estendiam até por volta de meia noite. Todo mês a programação era a seguinte: Num sábado, Divina Xama e depois Pagode Moleke. No outro, Pagode Moleke e, depois, Divina Xama. No sábado seguinte, uma banda qualquer pra abrir, depois Divina Xama e, fechando, pagode moleke. No último sábado do mês, pagode moleke, uma banda qualquer e, fechando, Divina Xama. Programação diversificada, como podem ver.

Mas Pagode Moleke e Divina Xama tinham repertórios diversos. Divina Xama tocava Pagode da Amarelinha, alguns sucessos do molejo e depois finalizava com um romântico do art popular. Pagode moleke, por sua vez, abria o show com um romântico do art popular, emendava com um pagode da amarelinha (3 vezes seguidas) e finalizava com os sucessos do molejo.

Mas era legal o Mon jardin. E o pequeno escroto estava preparado para sua primeira ida lá. E logo na maior festa do ano: 05 anos do Divina Xama, com a participação do Pagode Moleke.

O traje devia ser impecável. Bermuda jeans (ou Short mauricinho da overend), sapatilha (ou o reebok classic branco sem meia) e uma camisa ¾ da overend gola canoa, ou uma camisa pólo da brooksfield do pai. No pulso, relógio Bulova ou Tag Heuer trazido da disney e no cangote perfume Lapidu´s. Sublime, espetacular. Só vai dar o jovem escroto de 15 anos de idade.

Já dentro da festa e meio melado por tomar algumas cervejas, o jovem escroto vê que a parada vai ser mais difícil do que ele imaginava. As garotas têm entre 16 e 18 anos e não o conhecem, apesar de ver pelo traje que ele está usando que ele é - ou está tentando parecer que é - algum escroto.

Conversa com alguns amigos, da 7ª série, enquanto toma uma cerveja, mas já ficando visivelmente embriagado. Cambaleia um pouco, mesmo parado, e fica triste por ver que a coisa está ficando mais difícil do que ele pensava. 15 anos, bêbado e na festa só havia garotas mais velhas, que só querem caras do 2º ano ou do pré. Estava difícil.

Mas ele, mesmo bêbado, lembra que o grande trunfo estava em seu bolso. Lá, havia um celular STARTAC da Motorola, que trouxera há uma semana atrás da Disney. Naquela época, meus amigos, poucas pessoas tinham celular. Alguns tinham um PT 130 (Tijolão), outros, mais chiques, tinham um Elite e só seletos tinham um Startac. E, dentre os escrotos que tinham startac, contava-se nos dedos os que tinham um Startac com bateria fina. O do pequeno escroto era exatamente esse: Um Startac e de bateria fina.

Era a senha. Com esse celular ele iria arrochar até as patricinhas que dançavam em frente ao palco de divina Xama fazendo coreografias iguais. Bastava tirá-lo do bolso e ligar para alguém, que todos iriam perceber e, principalmente, olhar para o celular.

Ébrio, sem medir os movimentos, o nosso pequeno, em um golpe rápido, põe a mão no bolso e tira o celular. Disca algum número e, antes de dizer “alô”, cambaleia pra frente, cambaleia pra trás, cambaleia pra frente de novo e dá a ultima cambaleada para trás, caindo estatelado no chão, com os olhos fechados, os quais só abriria no outro dia, sob os carões da sua mãe, que não o deixaria mais beber e nem iria habilitar o celular novo dele, que sequer tinha linha pra falar com alguém.

Escroto se é desde pequeno. Por que não basta ser escroto. Tem que parecer escroto.

domingo, 4 de outubro de 2009

É que nem gosto, cada um tem o seu.

Desculpem a ausência.

Atualizo esta semana apenas com uma observação cretina do cotidiano.

Evandro Santos, mais conhecido por interpretar o "Cristian Pior" do programa Pânico na TV, esteve na iminência de ser contratado pela Rede Record, do dizimista milionário Edir Macedo, o pastor na casa de quem nada faltará, pois ele é o pastor.

Recusou o convite. O motivo, segundo o humorista, foi a identificação que ele tem mais com o pânico.

Escrevo na íntegra as razões por ele expostas: "O 'Pânico' te dá muita exposição. Você vira o 'cara do fundão'. Os jovens gostam de você, você fica com cara de cool, descolado. E eles sempre apostaram em mim desde a primeira pauta. É um sentimento de gratidão"
Pois é, Record, você se fudeu. O cara preferiu ficar com cara de COOL do que trabalhar com o pastor.
Que cara de Cool esse evandro hein?


A entrevista: http://entretenimento.br.msn.com/famosidades/noticias-artigo.aspx?cp-documentid=22054566