domingo, 23 de agosto de 2009

No egito é assim..

O blog deixa o amadorismo de lado por um momento e abre espaço, com muita honra, para um profissional. O causo narrado abaixo é do Jornalista Muriu de Paula Mesquita, jovem escriba talentoso, de quem tenho o privilégio de desfrutar a amizade pessoal e poder ouvir as melhores histórias e estórias de mesa de bar aqui em Natal. Diz aí, Muricas:
Uma Experiência de Quase Morte
Não sou caixeiro viajante, mas busco conhecer lugares diferentes, aproveitar a vida, fazer bons amigos e ter novas experiências. Ah, essa minha sina de andarilho! Em 2004 inventei de desbravar o sertão pernambucano com uma turma animada. Assim, organizamos uma ida a São José do Egito, conhecida como “A Terra dos Faraós”, por causa dos inúmeros repentistas de renome surgidos por aquelas bandas, os quais são chamados de “Príncipes da Poesia”.

Aqui conto a história de um cidadão local de nome ignorado, conhecido pelo apelido de Coveiro. O rapaz era primo de nossos anfitriões e nos serviu de guia turístico naquelas paragens desconhecidas. Como bom de copo que era, tratou logo de nos apresentar as maravilhas etílicas e gastronômicas da cidade. Às tantas da matina, foram surgindo vários causos típicos da região, impregnados de vida matuta, humor e deboche. Eis que então um dos presentes à mesa, com ar gaiato, sugeriu: “Agora conta aquela, Coveiro!”. O rapaz conhecido pelo mórbido apelido certificou-se que nenhum estranho escutava a conversa e assim, em tom de suspense, recordou essa história.

*O fato relatado a seguir é uma pérola que deve ser contado ao sabor das deliciosas cachaças e tira-gostos, servidos nos recantos da cidadezinha de São José do Egito.

Após doses cavalares de conhaque de gengibre, vermute e muita cachaça, o Coveiro decidiu “antecipar” o Dia de Finados. Chegando ao cemitério, ele ensaiou se jogar numa das covas abertas, mas desistiu pensando que seria dramático demais precipitar aquele momento que ainda não era o seu. Na medida em que o álcool foi subindo à cabeça, não pensou em mais nada. Num acesso de fúria, destruiu várias sepulturas. Dentre elas, encontravam-se as tumbas dos maiores violeiros da região.

Ora, achava-se no cemitério “egípcio” um cabra “doido de rasgar dinheiro”, alcoolizado, violento e que, para piorar as coisas, depredava um patrimônio cultural e histórico da cidade. Avisada por populares, uma guarnição da polícia chegou no local e deu voz de prisão ao rapaz. Em seguida, o profanador de tumbas foi conduzido ao xilindró. Entre os seus pertences, uma garrafa de conhaque pela metade, duas coroas de rosas, e, pasmem, várias cruzes, que haviam sido arrancadas dos túmulos.

Ao chegar na delegacia, o sujeito esbaforido pede explicações do Delegado. “Seu polícia, então agora é crime visitar os mortos?” Ao que ele respondeu: “Ah, cê sabe seu moço... temos um dia certo pra isso”. Nisso, um guarda mais conhecido como “Cabo Velho”, por sua passagem pelo Exército Brasileiro, se aproximou da confusão e observou atentamente a pilha de cruzes, próxima do Coveiro. Ao conservar os olhos na direção dos objetos fúnebres, o ex-militar identificou o nome de seu falecido pai, fato este que o deixou transtornado. Na seqüência relatada, o guarda engoliu em seco o choro entalado na garganta, e evocou a memória daquele que havia sido tudo para ele, além de um dos melhores repentistas da região. Emocionado, sacou o seu revólver enferrujado pelo tempo e pôs o dedo em riste na cara do Coveiro em tom ameaçador: “Cê vai vêee, cabra de peia!”

EPÍLOGO - Por um capricho do destino, o revólver do “Cabo Velho” falhou enquanto o Coveiro assistia ao filme de sua vida, em fração de segundos, e jurava para si mesmo que nunca mais bebia além da conta. Eita Coveiro de sorte! Desta vez a velha senhora de preto guardou a foice, mas sabemos que ela está sempre à espreita. E, hoje, depois deste fato ocorrido em São José do Egito, ainda existem cientistas pelo mundo que insistem em duvidar da Experiência de Quase Morte. Deve ser porque não tiveram a oportunidade de conhecer o Coveiro, personagem deste nosso causo.

Muriu de Paula Mesquita – Jornalista em Natal

Um comentário:

Rafaella disse...

kkkkk...
cachaçaa!